segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

FORAM FECHADAS 37.776 ESCOLAS RURAIS NO BRASIL NOS ÚLTIMOS 10 ANOS



‘Fechamento de escolas é atentado às comunidades rurais’

Dados do censo escolar do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), do Ministério da Educação (MEC), registram que 37.776 estabelecimentos de ensino rurais foram fechados nos últimos 10 anos em todo o país.

Para o professor da Universidade Federal do Pará (UFPA) Salomão Hage, a garantia constitucional do direito à educação foi substituída pela lógica da relação custo-benefício pelo poder público.

"As políticas públicas educacionais, há certo tempo, são orientadas pela relação custo-benefício, na perspectiva neoliberal. Os gestores públicos hoje são desafiados a apresentar cada vez mais resultados com cada vez menos financiamento”, afirma.

Hage acredita que essa é uma mágica difícil de materializar. "Como você pode atender mais, oferecer melhor qualidade, contemplar a diversidade em um país em histórica situação de negação de direito se o orçamento e investimento cada vez diminuem mais?”, questiona.

Para ele, a associação de desenvolvimento ao meio urbano é usada pela justificar o fechamento das escolas no meio rural. "O próprio poder público olha para esse processo de territorialização das populações do campo e rotula de disperso. Se está disperso, no sentido de estarem distribuídas ao longo do território, e se pode reuni-las, gastará menos de acordo com suas referências de qualidade. Assim começa o desenvolvimento das políticas de nucleação que, às vezes, não são de nucleação, mas de polarização”, critica.

Essa política desrespeita o Estatuto de Criança e dos Adolescentes (ECA), que indica que os educandos devem ser atendidos nas suas próprias comunidades. "As diretrizes operacionais para a educação básica no campo, as diretrizes complementares para as escolas do campo fortalecem essa ideia da necessidade da escola atender as crianças e os adolescentes, prioritariamente, na sua comunidade”, sustenta.

Leia entrevista à Página do MST com Salomão Hage, que coordena o grupo que estuda educação no campo na Amazônia e integra a coordenação do Fórum Paraense de Educação no Campo.

Como você avalia o fechamento de escolas por estados e municípios?

As políticas públicas educacionais, há certo tempo, vêm sendo orientada pela relação custo-benefício, por conta da perspectiva neoliberal. Os gestores públicos hoje são desafiados a apresentar cada vez mais resultados com cada vez menos financiamento. Isto é uma mágica difícil de materializar. Como você pode atender mais, oferecer melhor qualidade, contemplar a diversidade em um país em histórica situação de negação de direito se o orçamento e investimento cada vez diminuem mais? O resultado tem sido a aplicação de políticas educacionais que caminham no contraponto das demandas que os movimentos sociais do campo e da cidade, dos educadores, das universidades colocam como referência para a educação.

Como essa relação custo-benefício afeta as escolas do meio rural?

O Estatuto de Criança e dos Adolescentes indica que as crianças devem ser atendidas nas suas próprias comunidades. As diretrizes operacionais para a educação básica no campo, as diretrizes complementares para as escolas do campo fortalecem essa ideia da necessidade da escola atender as crianças e os adolescentes, prioritariamente, na sua comunidade. Isso significa o acesso pela comunidade aos conhecimentos historicamente produzidos e, em grande parte, as escolas são o único equipamento público existente. Por isso, representam a presença do Estado naquela localidade. Onde a escola está presente, há uma movimentação da infância, da adolescência. A escola é espaço de reunião, de atividades culturais da comunidade, de discussão coletiva.

Qual o impacto da falta de escolas para crianças do meio rural, que vão estudar nas cidades?

As comunidades rurais em geral, estão distribuídas territorialmente de acordo com as demandas e as necessidades que as populações têm de sobrevivência, de trabalho, de relação que se estabelece com a terra, com a água, elas estão presentes há séculos. Há um processo de desenvolvimento sustentável a partir do processo de territorialização desenvolvimento destas localidades. Na medida em que o gestor é demandado para o atendimento - e não é um atendimento qualquer - gestão publica cria alternativas pautadas por essa questão de custo benefício, que vai em sentido contrário às demandas e necessidades do processo de territorialização desenvolvido.

O princípio também é inspirado por uma perspectiva 'urbanocêntrica'. Esse "desenvolvimento” é pautado na perspectiva do campo para a cidade, causando um processo de expulsão do campo na ideia de que, se eu concentro as pessoas posso atender mais, utilizando menos recursos. Uma coisa é atender 300 escolas distribuídas por todo o campo brasileiro, outra coisa é atender 20 escolas com as pessoas concentradas onde você não teria gastos com transporte, deslocamento e um conjunto de outras demandas para atender.

Como o Estado age nessa situação?

O próprio poder público olha para esse processo de territorialização das populações do campo e rotula de disperso. Se está disperso, no sentido de estarem distribuídas ao longo do território, e se pode reuní-las, gastará menos de acordo com suas referências de qualidade. Assim começa o desenvolvimento das políticas de nucleação que, às vezes, não é de nucleação, mas de polarização. Quando se aumenta o transporte escolar, você fecha escolas em comunidades mais distantes e reúne em comunidades rurais maiores ou traz para a sede do município.

É essa perspectiva quantitativa da relação custo-benefício, a partir da perspectiva urbanocêntrica, que é aplicada pela gestão pública. Há ainda uma aceitação da sociedade, porque conseguem demonstrar que, por meio da oferta do transporte escolar, atendem toda a demanda e em todos os níveis. Isso acontece porque há uma compreensão de que a cidade é o lugar do desenvolvimento, que consolida como natural esse movimento das pessoas se deslocarem do campo para a cidade.

O fechamento das escolas do campo pelo poder público segue esses princípios?

O fechamento das escolas é um atentado às comunidades rurais com o discurso de melhoria, ampliação e aumento da escolaridade. Só que não há lugar para todo mundo viver na cidade, no lado urbano. A população que vive nas cidades não vive essas promessas do desenvolvimento que a perspectiva urbanocêntrica apresenta. Quem vive bem na cidade? Quem vive no centro e quem tem um emprego significativo? A grande maioria vive muito mal na cidade, vive pior que as pessoas que vivem no campo.

Nos últimos anos, foram fechadas mais de 30 mil escolas. Se a gente não abrir o olho. esse número amplia. Essa é uma luta que precisa unir todos os setores. Estamos na luta pelo Plano Nacional de Educação. O que nos une são as referências de qualidade da educação, a necessidade de um financiamento suficiente, a valorização e a formação dos profissionais de educação. Há uma luta pelos 10% do Produto |Interno Bruto para a educação cobra uma condição para desenvolver as escolas do campo e da cidade.

No entanto, há demandas especificas do campo: apenas 30% das crianças são atendidas em nível de educação infantil no campo, segundo números do MEC. Com a emenda constitucional 59, conseguimos que até 2016 o ensino será obrigatório dos quatro aos 17 anos. Como vamos atender as crianças menores, cujas mães trabalham no campo? Se a lógica é investir em transporte e deslocamento, como vamos fazer com as crianças de zero a 5 anos?

O discurso de que estão dispersas é uma forma pejorativa de tratar a territorialização das populações do campo, que se organizam de acordo com suas necessidades e com as relações que estabelecem com a floresta, com a terra, com a água. Não se pode simplesmente olhar para isso e dizer que é disperso.

Qual a sua avaliação das políticas públicas para a educação do campo, em nível nacional, nos últimos 10 anos?

Desde o final da década de 90, mais especificamente com a realização das conferências nacionais de educação do campo, com a criação e o fortalecimento de uma articulação nacional, que combina a participação dos movimentos sociais, universidades e setores do poder público voltadas para a questão da agricultura familiar e da Reforma Agrária, a gente tem dado passos significativos no sentido de pensar o campo brasileiro a partir da sua diversidade, demandas e necessidades, dentro da disputa política por outro projeto de sociedade.

O que avançou nesse processo?

O fortalecimento desse movimento foi capaz de fazer com que o MEC pudesse criar dentro da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade e Inclusão (Secadi) uma coordenação de educação no campo.

A partir dela, foram criados alguns programas - como o Projovem Campo, o Saberes da Terra, o Procampo licenciatura plena e mesmo o Escola Ativa (que não teve uma discussão mais sistemática com o conjunto dos movimentos) - que começaram a provocar um certo movimento dentro da formação do educador, no âmbito da formação da prática educativa em todos os níveis de faixa etária.

Além desses, teve avanços no Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera), que foi criado da discussão entre o Ministério do Desenvolvimento Agrário e o Incra.

Há um protagonismo desse movimento que se desenvolveu de modo a mostrar que os sujeitos do campo também são sujeitos de direito e as políticas publicas precisam atender as suas necessidades.

Vivemos um momento de fortalecimento dessa consciência da necessidade do atendimento e da necessidade de demarcar as especificidades dos sujeitos do campo. Com isso, consolida-se a ideia de que o campo tem como contribuir com esse projeto de desenvolvimento. E que sem o campo o desenvolvimento pode não resultar em uma proposta significativa.

Qual a reação à maior participação dos movimentos sociais?

Esse processo de protagonismo tem despertado um desconforto daqueles que tem um projeto diferenciado para o campo e para a sociedade brasileira. Enquanto os movimentos fortalecem os modos de produção familiar no campo e as lutas camponesas pela Reforma Agrária, o agronegócio também está em franca expansão com um significativo financiamento, que entra em contradição com esse avanço que o movimento social vem desenvolvendo.

Insatisfação essa que, historicamente, foi construída na representação social que os povos do campo seriam atrasados e a agricultura familiar um projeto de fome, que não tem como contribuir para o desenvolvimento.

Ao mesmo tempo, o projeto do modo de produção familiar se apresenta como uma alternativa viável para o desenvolvimento com base na sustentabilidade, na economia solidária e nos princípios de educação crítica e transformadora. Essas disputas de hegemonias começam a fluir e os ataques vêm da mídia, das grandes corporações e, essencialmente, de instituições que, embora públicas, são direcionadas pela perspectiva privatista, patrimonialista.

Quanto mais avança, maior a reação desses setores?

É isso que a gente tem vivido de forma mais intensa nos governos Lula e Dilma. No governo Lula, conseguimos avançar mais no diálogo entre os movimentos sociais, as universidades e o setor público, no sentido de apresentar editais, os programas, de formular legislações que pudessem reconhecer esse outro projeto, essa outra intencionalidade.

Projetos promovidos durante o governo Lula foram se ampliando, até que, com as reações, começaram a sofrer e ter a continuidade comprometida. Embora Pronera estivesse assegurado com o decreto, virou política pública.

Outros programas, com o próprio Procampo, estão ameaçados de serem substituídos pelo Pronacampo. Esse novo programa está sendo construído sem o diálogo com os movimentos sociais e com as universidades.

E no que a educação contribui para essa disputa de modelo de sociedade?

A educação conseguiu estimular a relação de movimentos sociais, universidades, setores do poder público mais alinhados com esse outro projeto de sociedade e de educação, na relação direta entre educação e trabalho, educação e desenvolvimento, na formulação de outro projeto de sociedade.

Na medida em que isso se consolida e se apresenta como uma proposta viável, que atende às necessidades da maioria, os blocos hegemônicos - que se orientam por outra perspectiva, por uma sociedade excludente, elitista e discriminatória - reagem em todos os sentidos para deslegitimar esse projeto.

Esses resultados são suficientes?

Essa situação de negação de direitos, não só para o campo, mas também para a população que mora nas periferias das grandes cidades, para as classes populares da sociedade brasileira é histórico. Tem pelo menos cinco séculos de existência. Não seriam 10, 12 ou 20 anos de protagonismo e tentativa de redimensionar o atendimento educacional que seriam suficientes para superar os níveis de pobreza da sociedade, que em sua grande maioria está no campo.

A precarização do campo data desde o inicio do Brasil enquanto Nação, mas esse protagonismo tem se fortalecido com essa nova articulação. Mas há reação com a criminalização dos movimentos sociais, que são acusados de receber dinheiro dos órgãos públicos para fortalecer suas organizações.

E no que essa falta de diálogo e participação dos movimentos sociais na construção de novas políticas para a educação pode significar?

A falta de dialogo pode significar a não continuidade dos programas desenvolvidos como resultado dessa articulação entre os movimentos sociais e o poder público. Poderá significar um afastamento maior do MEC, da Secadi e da própria coordenação de educação no campo. Na medida em que se constrói novos programas e novas diretrizes sem a interlocução com os movimentos sociais e as universidades, esse afastamento tende a se fortalecer. Pode se configurar num programa que não atenda às necessidades e demandas.

Fonte: Adital

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Movimentos fazem convocatória global para Cúpula dos Povos na Rio+20



Amanhã (28), em Porto Alegre, região Sul do Brasil, movimentos sociais e de meio ambiente farão uma convocatória global para a Cúpula dos Povos na Rio+20 por Justiça Social e Ambiental. O evento está programado para acontecer a partir das 17 horas, na Usina do Gasômetro, e quer convidar todos e todas a participarem da ‘construção de um mundo novo possível’.

A convocatória global acontece dentro das atividades do Fórum Social Temático - crise capitalista, justiça social e ambiental que teve início no último dia 24 e segue até o próximo domingo (29) com atividades preparatórias para a Rio+20. Os interessados em acompanhar os últimos dias do Fórum podem assistir online as principais atividades. Basta acessar http://conexoesglobais.com.br/ao-vivo/.

O ato público marcado para amanhã será encabeçado por organizações, coletivos e movimentos sociais com o objetivo de dar visibilidade à Cúpula dos Povos e chamar a sociedade civil global a viver e abraçar "uma nova forma de se viver no planeta, em solidariedade, contra a mercantilização da natureza e em defesa dos bens comuns”, segundo reforça o Informe do Comitê Facilitador da Sociedade Civil Brasileira para a Rio+20.

‘Venha reinventar o mundo’

A Cúpula dos Povos na Rio+20 acontecerá paralelamente à Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável – a Rio+20 oficial, que será realizada de 20 a 22 de junho. O evento alternativo, repleto de atividades, será mais extenso e acontecerá de 15 a 23 de junho, no Aterro do Flamengo, no Rio de Janeiro.

De acordo o Comitê Facilitador para a Rio+20, a Cúpula se propõe a ser mais que um grande evento. "Trata-se de um processo de acúmulos históricos e convergências das lutas locais, regionais e globais, que tem como marco político a luta anticapitalista, classista, antirracista, antipatriarcal e anti-homofóbica”, dizem.

Os nove dias de Cúpula serão transformados em um amplo espaço de debate para tratar com seriedade os graves problemas ambientais enfrentados pelas populações e também para demonstrar a força política dos povos organizados. Para fortalecer este momento de debates e atrair cada vez mais pessoas interessadas em se unir à luta ambiental e social, o Comitê faz o convite ‘Venha reinventar o mundo’.

Atividades organizadas pelos movimentos sociais locais, marcha de abertura, discussões autogestionadas, Assembleia Permanente dos Povos, Dia de Mobilização Internacional e construção da mensagem final farão parte da programação da Cúpula dos Povos.

Rio+20

A Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20) também acontecerá no Rio de Janeiro e será protagonizada por Chefes de Estado, de Governo e outros representantes políticos. As principais pautas de debate serão: a economia verde no contexto do desenvolvimento sustentável e da erradicação da pobreza, e o quadro institucional para o desenvolvimento sustentável. No olhar dos movimentos sociais, o debate destes temas é insuficiente para encontrar soluções à crise ambiental global provocada pelos modelos de produção e consumo capitalista.

Mais informações em: http://cupuladospovos.org.br/

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Minha entrevista no site Varejo Sortido



Quero agradecer ao amigo Luiz Alberto Machado, do site Varejo Sortido, pela iniciativa e pelas doces palavras. Reproduzindo a entrevista que pode ser encontrada no link:http://varejosortido.blogspot.com/2012/01/todo-dia-e-dia-da-mulher-jo-ramos.html?spref=fb

ENTREVISTA:


LAM - Jô, as primeiras perguntas são de praxe. Servem para traçar um breve perfil do entrevistado. Então vamos pra primeira: quando e como se deu seu encontro com o jonalismo?


Desde os 6 anos de idade eu já escrevia e lia muito, sempre foi assim. Sempre li sobre política, mesmo não tendo ninguém da família envolvida. O jornalismo foi a forma que encontrei para me comunicar com o maior número de pessoas possível. Acho que realizei melhor esse desejo com o surgimento das redes sociais principalmente com a criação dos Blogs.


LAM - Que influências da infância e adolescência possibilitaram a formação de sua identidade profissional?


Sempre estive cercada por livros que comprava com o dinheiro da mesada. Aos 16 anos quando comecei a ler Simone de Beauvoir, Jean Paul Sartre e as entrevistas da jornalista italiana Oriana Fallaci, entendi muita coisa que estava acontecendo no mundo e principalmente com nós mulheres.


LAM - Qual a sua posição com relação à extinção do diploma da categoria?


Acho péssimo. Não por uma questão elitista e sim por defender a necessidade de um conhecimento acadêmico que é fundamental. Nem todo mundo nasce com um texto na cabeça e para realizá-lo, muitas vezes, é preciso o conhecimento da técnica. Para qualificar, filtrar e organizar os conteúdos é necessário o trabalho profissional, qualificado do jornalista. A quantidade de informações disponíveis hoje é quase incomensurável, somente um profissional da informação, um jornalista qualificado pode organizar esse conteúdo para disponibilizar à sociedade.

É importante saber ouvir a sociedade, verificar a veracidade das notícias, manter contato com fontes de informações e, por fim, publicá-las. Até hoje, nenhuma profissão foi questinada sobre o fato de existir uma formação acadêmica para ser exercida, por que isso aconteceu com o jornalismo? é uma boa pergunta.

Abro uma brecha para os colunistas. Esses sim, independente de serem ou não jornalistas, podem emitir suas opiniões. Quem decidi isso é o boss do veículo. Com a criação dos Blogs o leitor pode formalizar suas idéias e defendê-las como quiser, é mais um espaço para publicação.


LAM - Você desenvolve um trabalho bastante engajado em dois blogs que edita: o Defesa da Mulher e o Myself. Fala da proposta de cada um desses seus blogs.


O Defesa da Mulher é um blog que propõe a divulgação de notícias, dados, matérias, depoimentos e entrevistas sobre a violência contra nós mulheres, não só no Brasil como no mundo. É impossível viver em um país onde a cada 2 horas 1 mulher é assassinada, ficar omissa. O Myself é mais livre no conteúdo. Falo sobre tudo, de política a religião, música, livros, cinema..etc.


LAM - A imprensa brasileira, a seu ver, tem dado a devida atenção e de forma idônea e isenta acerca do problema da mulher brasileira?


Não. A imprensa não cobre o assunto como deveria. Quando o assunto é violência contra as mulheres ainda estamos nas páginas policiais, mas, já existem abordagens que mostram o tema como uma questão de saúde, de direitos e de políticas públicas e isso nós devemos aos movimentos de mulheres que conseguiram pressionar os órgãos de comunicação.
A mídia tem o poder na medida em que defini o que será manchete ou não, o que será lido ou não pelo público. É preciso garantir que os profissionais de imprensa exerçam esse poder de maneira ética e com responsabilidade social. É fundamental estimular a responsabilidade social da imprensa, alertar, conscientizar e sensibilizar jornalistas a respeito da gravidade desse problema.


LAM - Qual a sua perspectiva com a edição da Lei Maria da Penha? Esse instrumento atende os anseios no combate à violência contra a mulher? A legislação brasileira abrange e atende a expectativa de se erradicar a pratica da violência contra a mulher?


A Lei Maria da Penha foi um grande avanço, mas, precisamos de muito mais, para que ela seja cumprida. Desde a promulgação da Lei Maria da Penha, o número de serviços especializados aumentou em 35% (de 521 para 707).
Atualmente, existem 707 serviços especializados - 388 Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher, 166 Centros de Referência de Atendimento à Mulher, 71 Casas-Abrigo, 62 Defensorias Especializadas e 20 Promotorias Especializadas. No que se refere à justiça e à segurança, foram criados 53 juizados especializados/varas adaptadas de violência doméstica e familiar e 388 Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher.

Segundo a SPM, além da criação, muitos recursos têm sido investidos para o reaparelhamento/reforma das Delegacias Especializadas, de Centros de Referência de Atendimento à Mulher e de Casas-Abrigo. Com tudo isso, ainda não podemos afirmar que estamos perto de um atendimento exemplar. Pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) com dados de 2009 mostra que apenas 559 municípios brasileiros possuem os chamados Centros de Referência para mulheres em situação de violência. Isso representa apenas 10% do total de cidades brasileiras. Estes centros oferecem assistência psicológica e atendimento jurídico para vítimas de violência doméstica.


LAM - Ao trabalhar o mote "Todo homem que maltrata a mulher não merece jamais qualquer perdão", realizei uma série de estudos e pesquisas para poder fechar esse meu trabalho poético numa martelada para cordel. Nessa pesquisa, ao se fazer uma leitura que compreende tanto a abordagem feita pela Tannah Hill até as escritoras e estudiosas de hoje das causas das mulheres, observando que os reclamos não são menores até então, principalmente no que tange à exclusividade da luta dos homens nas suas causas, enquanto a das mulheres incorpora não só as causas delas, como a de todos os excluídos. O universo masculino tem demonstrado solidariedade, ou ainda é determinante o machismo de sempre?


O machismo ainda está muito presente na nossa sociedade, é só observar o número de mulheres estupradas, humilhadas e mortas em nosso país. A atenção voltada à temática da violência doméstica e o seu combate tem se intensificado desde a criação da Lei Maria da Penha, em agosto de 2006. Mas enquanto as mulheres são o foco principal das políticas públicas, há quem trabalhe na outra ponta do problema: os homens que as agridem. Um exemplo é o Instituto Noos, no Rio de Janeiro, que desde 1999 atendeu cerca de 300 homens que procuraram, espontaneamente, ajuda para pararem de bater em suas mulheres.


LAM - A seu ver, a internet tem contribuído para coibir os abusos e violências contra a mulher?


A internet é mais uma forma de divulgação, esclarecimento e informação do que de coibição. O que vai mudar o atual quadro de violência contra as mulheres são as políticas públicas, educação, construção de mais Centros de Referência e Casas Abrigo.


LAM - Você também edita um excelente blog literário, o Tardes Poéticas. A respeito dele, um verso do meu poema "Primavera de Ginsberg" ficou bem identificado: "[...] Só a poesia tornará a vida suportável". Qual a proposta desse seu blog?


A poesia tem a força de apaziguar-me com o mundo conturbado em que vivemos, por isso, ela é indispensável. Sou apaixonada por poetas e livros. A proposta é divulgar nas redes escritores e poetas tentando sensibilizar as pessoas e dizer que nem tudo está perdido. Temos poesia.


LAM - Quais os projetos que você tem por perspectiva realizar?


São tantos... rssrsr..bom, tenho 3 documentários, dois já aprovados pela Lei Rounet e 1 livro:

1-Mulheres Benditas que vai falar de 6 mulheres brasileiras biografadas pela escritora Ana Arruda Callado.

2- Documentário sobre o Acervo do Museu-Casa de Rui Barbosa.

3-O projeto VIVA MULHER é um documentário com mulheres de várias cidades do Brasil sobre violência, principalmente a doméstica. Quero levar informações sobre direito, cidadania e formas de defesa para as mulheres, com palestras e debates. O documentário de 60 minutos vai registrar tudo em um período de 6 meses. Lançaremos nas casas de apoio às mulheres, nos centros, nos abrigos, e onde nos for dada a oportunidade de mostrar o trabalho. Complementando o projeto lançaremos um livro e disponibilizaremos cópias do documentário para cine clubes e bibliotecas. Nossa intenção é alcançar pequenas cidades, onde o acesso a informação é mais precário. Estamos buscando parceria e patrocínio.

4-Livro Vista Carnaval, um livro sobre Recife e Olinda, também aprovado pela Lei Rounet. Todos esses projetos estão à procura de patrocínios/apoios/parcerias.

Grata pela oportunidade de falar com seus leitores. Bj, Jô.

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

VAREJO SORTIDO: TODO DIA É DIA DA MULHER: JÔ A. RAMOS

VAREJO SORTIDO: TODO DIA É DIA DA MULHER: JÔ A. RAMOS: ´ JÔ A. RAMOS - A jornalista Jô A. Ramos, possui licenciatura em Letras pela Universidade Candido Mendes e Jornalismo pela CUP, pos-...

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

RECEITA DE ANO NOVO - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE



Para você ganhar
um belíssimo Ano Novo cor de arco-íris,
ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação
como todo o tempo já vivido
(mal vivido ou talvez sem sentido)

para você ganhar um ano não apenas pintado de novo,
remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser,
novo até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)

novo espontâneo,
que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia, se ama,
se compreende, se trabalha,

você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens? passa telegramas?).
Não precisa fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.

Não precisa chorar de arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar que por decreto da esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa, justiça
entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados,
começando pelo direito augusto de viver.

Para ganhar um ano-novo que mereça este nome,
você, meu caro,
tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo de novo,
eu sei que não é fácil,
mas tente,
experimente, consciente.

É dentro de você
que o Ano Novo cochila
e espera
desde sempre