segunda-feira, 24 de outubro de 2011

STÉPHANE HESSEL - INDGNAI-VOS




"NOVENTA E TRÊS anos. É a derradeira etapa. O fim não está longe."

A despeito do que pode sugerir a abertura de "Indignez-vous" ("Indignai-vos", Indigène Éditions), de Stéphane Hessel, a nova coqueluche da esquerda francesa não é a constatação nostálgica de uma vida que chega ao final, mas um convite à indignação.

Segundo sua editora, Sylvie Crossman, "ele convida à não cooperação com a financeirização do mundo, prega a desobediência civil a leis e reformas injustas, como a recente das aposentadorias".

Com o panfleto de 32 páginas que lançou em outubro, ao módico preço de 3 euros (menos de R$ 8), o nonagenário embaixador se transformou numa zebra da lista de mais vendidos francesa: já vendeu 1,3 milhão de exemplares, deixando para trás o prêmio Goncourt 2010, "La Carte et le Territoire" (O Mapa e o Território), romance de Michel Houellebecq.

O que poderia ser um fenômeno tipicamente francês --uma diatribe indignada contra a reforma do Estado e o capitalismo financeiro-- começa a transbordar pelas fronteiras da Europa.

Há edições previstas em Portugal, na Espanha (em espanhol, basco, catalão e galego), em países do Leste europeu, na Turquia, na Escandinávia,
na Coréia do Sul. No Brasil, deverá sair pela editora Leya, ainda sem previsão de data.

Em 23 de fevereiro, a revista semanal americana "The Nation" deverá publicar
o texto na íntegra (depois será lançado em livro).

FENÔMENO UNIVERSAL

"Ele vai se tornar um fenômeno universal porque a mensagem de Hessel é universal", diz Sylvie Crossman. Para ela, o autor é comparável ao líder indiano Mahatma Gandhi. "O embaixador Hessel é um homem livre, um partidário da não violência."

O engajamento do embaixador na causa palestina foi motivo de uma recente polêmica, quando uma conferência sua na École Normale Supérieure, um dos templos
da intelectualidade francesa, foi cancelada.

Num manifesto publicado no jornal "Libération" em janeiro, o filósofo Alain Badiou apontou como origem do cancelamento pressões do Conselho Representativo das Instituições Judaicas da França e de intelectuais como os filósofos Bernard-Henri Lévy e Alain Finkielkraut, de perfil direitista.

Em seu livro, Hessel defende as conquistas sociais trazidas pela Resistência logo depois da Segunda Guerra, como a previdência social, com um argumento simples: "Como pode haver falta de dinheiro hoje para manter e prolongar essas conquistas já que a produção de riquezas aumentou consideravelmente desde o fim da Guerra, quando a Europa estava arruinada?".

A política francesa de imigração,com "expulsões e suspeitas contra os imigrantes", também está na sua mira.

REAÇÕES

À direita, a reação ao panfleto de Hessel veio rápido --e de cima, o que prova que sua mensagem está longe de ser o benigno canto do cisne de um decano da esquerda gaulesa.

Embora o governo não seja explicitamente citado, o primeiro-ministro François Fillon, alinhado com o presidente Nicolas Sarkozy, vestiu a carapuça e saiu de sua habitual reserva para criticar: "A indignação pela indignação não é um modo de pensamento", disse ele no começo do ano.

À esquerda, a auto intitulada "insurreição pacífica" de Hessel parece trazer esperança para vencer os impasses de socialistas e comunistas franceses.

O embaixador está em todas as causas "subversivas" da França de hoje: a defesa dos sem-teto, dos imigrantes ilegais e da Palestina.

Engajou-se também no front ambiental, apoiando a candidatura do ex-líder de Maio de 68 Daniel Cohn-Bendit e de José Bové, líder agricultor antiglobalização, para o Parlamento Europeu de 2009, numa chapa verde.

Fez isso, segundo disse num comício, "para ver surgir uma esquerda impertinente que tenha peso na realidade política".

Num ponto, entretanto, Hessel concorda com Nicolas Sarkozy: "O ideal seria que o ex-presidente Lula se tornasse secretário-geral da ONU ", disse ele à Folha, ecoando as palavras do mandatário francês durante uma reunião do G-20 em Pittsburgh, nos EUA.

"Esse cargo é perfeito para ele", disse Hessel. Dilma Rousseff também o empolga: "Quem sabe ela não possa aprofundar as reformas sociais de Lula?".

Hessel vibrou quando a diplomacia brasileira reconheceu o Estado Palestino, gesto logo imitado por outros países sul-americanos.

AÇÃO

"Ele é de um otimismo e de um entusiasmo incríveis, sem ser ingênuo, nem utópico. Seu otimismo o leva à ação", garante a franco-suíça Christiane Hessel, 83, sua segunda mulher e companheira "full time".

Durante o encontro com a Folha, o telefone não parou de tocar com pedidos de entrevistas. O "Monsieur Droits de l'Homme" (Sr. Direitos Humanos), como o apelidou a imprensa, teve uma vida movimentada, conforme narrou o jornalista Jean-Michel Helvig no livro "Citoyen Sans Frontières" (Cidadão Sem Fronteiras, Fayard) e no
documentário alemão "Der Diplomat" (1994), de Antje Starost.

Membro da Resistência durante a Segunda Guerra Mundial, foi preso e torturado pela Gestapo, tendo sido enviado para os campos de concentração de Buchenwald e de Dora-Mittelbau.

Com o fim da guerra, participou da equipe de redatores da Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948), ao lado do brasileiro Oswaldo Aranha, do qual não tem lembranças específicas, embora ressalte sua importância.

Nascido em Berlim, em 1917, naturalizado francês vinte anos depois, Hessel é filho do romancista alemão Franz Hessel, de origem judaica, e de Helen Grund, de família protestante.
Em 1924, Helen deixou a Alemanha com o filho para viver na França com o escritor Henri-Pierre Roché. Franz e Henri-Pierre amavam a mesma mulher e com ela formaram um triângulo amoroso, eternizado no romance autobiográfico "Jules et Jim" e sobretudo na adaptação cinematográfica de mesmo nome, dirigida por François Truffaut (1962).

No filme, o filho de Helen (Jeanne Moreau) é uma menina, o que Christiane Hessel considera "bizarro". Em quase um século de vida, o diplomata se casou duas vezes: com a primeira mulher, teve dois filhos, Antoine e Michel, e uma filha, Anne,
todos os três médicos em Paris.

INTOCÁVEL

Hessel não é um embaixador francês comum, observa o secretário dos Direitos Humanos do governo FHC, Paulo Sérgio Pinheiro, "mas tem esse título, essa honraria que poucos têm, isso lhe dá um ar de 'intocável'".

Tão intocável que, durante uma viagem a Gaza e à Cisjordânia em 2002, a convite de pacifistas israelenses, logo depois da segunda intifada (levante palestino), cada vez que o ônibus era parado num "check point" na estrada para Ramallah, Hessel se levantava e declamava versos de seus poetas românticos preferidos, em alemão, em francês e em inglês. Quem lembra é Martin Hirsch, político francês de origem judaica que estava no grupo de 11 intelectuais franceses.

Desde aquela viagem, Hessel tornou-se um ardoroso defensor do Tribunal Russell para a Palestina (russelltribunalonpalestine.com), iniciativa da Fundação Bertrand Russell para a Paz, que procura defender as resoluções da ONU e promover a paz e a justiça no Oriente Médio.

O embaixador vai doar 100 mil euros dos direitos autorais do livro para o pagamento de juristas que trabalham no tribunal.

SEGREDO

Qual é o segredo de um livro de 30 e poucas páginas vender 1,3 milhão de exemplares em poucas semanas?

Para Paulo Sérgio Pinheiro, o êxito de Hessel foi "retomar o programa e os valores da Resistência da França depois da derrota do regime fascista de Vichy, momento de reconstrução da democracia democracia francesa, agora no século 21, numa conjuntura política em que o governo Sarkozy revigora o racismo, escorraça os imigrantes, persegue os ciganos, encarcera crianças em centros de detenção".

Pinheiro conheceu o embaixador em Bujumbura, capital do Burundi, em 1998, ambos em missão diplomática. A TV franco-alemã filmava um documentário sobre os 50 anos da Declaração Universal.

Num clima tenso, a comitiva e a equipe de filmagem jantavam ao ar livre, com o hotel sob ameaça de invasão pelos rebeldes. "Na sobremessa", lembra Pinheiro, "Hessel pediu licença para recitar 'Les Chimères', de Gérard de Nerval... e depois uns sonetos de Shakespeare. Todos nós ficamos maravilhados.

Fonte:Folha de São Paulo

domingo, 23 de outubro de 2011

SOMOS INFELIZES NO TRABALHO, É FATO. UMA REFLEXÃO COM PÁTRIA DEFINIDA: BRASIL


Grande parte dos brasileiros se declaram infelizes no trabalho: chefes prepotentes e grosseiros, excessos de trabalho e projetos engavetados, nenhuma perspectiva de melhora, vida pessoal em segundo plano. O perfil dos empregadores brasileiros é o pior possível.

Essa imagem que se vende do novo empresário, de chances maravilhosas no trabalho, de uma nova juventude e blá..blá..blá..é tudo marketing. O Brasil ainda está no séc 10 quando se trata de valorização da pessoa e da mão de obra.

Temos um exército de pessoas indo com raiva ao trabalho e por isso adoecendo. Ainda estamos na idade da pedra nas relações patrão/empregado, e com isso, intensificando a rivalidade, a competitividade e o ódio entre nós pobres mortais.O capitalismo se renova as custas da depressão humana, mas, no Brasil é ainda pior.

Zygmunt Bauman, sociólogo polonês, de 86 anos, é considerado um dos pensadores que mais produz obras que refletem os tempos contemporâneos, vê nos sinais de exaustão do capitalismo, não o fim, mas um novo começo para um sistema que elogia pelo que classifica como uma capacidade fabulosa de ressurreição e regeneração, ainda que algo bastante comum aos parasitas do mundo animal - organismos que se alimentam de outro organismo, até a quase completa exaustão do seu hospedeiro, quando o parasita encontra outra criatura da qual se alimentar, deixando para trás uma trilha de destruição.

Concordo plenamente, a comodificação de todos os setores de nossa vida está ligada ao crescimento do cunsumo/mercado e isso reflete nos nossos desejos que são transformados em necessidades pela economia capitalista. É o capitalismo avançando com o que se pode chamar de destruição criativa do sistema. Estamos eternamente no impasse em como ajustarmos sobrevivência e realização.