segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS NA PRÁTICA ESCOLAR




Fiz uma resenha deste capítulo do livro de José Carlos Libâneo: Democratização da Escola Pública: a Pedagogia crítico social dos conteúdos.

O texto é centrado na dura vida do professor dividido em avançar na prática educacional e, ao mesmo tempo, aceitar a forma tradicional em que se encontram os estabelecimentos de ensino no país. A escola brasileira tem sido marcada pelas tendências liberais, preparando os indivíduos para o desempenho de papéis sociais, no sentido de reprodução dos valores e normas da sociedade. As tendências pedagógicas foram classificadas em liberais e progressistas.

Os conteúdos, os procedimentos didáticos, a relação professor/aluno não têm nenhuma relação com o cotidiano do aluno e muito menos com sua realidade social, portanto, a individualidade e a história desse aluno, são ignorados. O que vemos é a reafirmação de um conceito.

A tendência Liberal se divide em: Tradicional, renovada progressivista, renovada não-diretiva e tecnicista. A Pedagogia progressista em: libertadora, libertária e crítico-social dos conteúdos. A educação brasileira nos últimos 50 anos tem sido marcada pelas tendências liberais, ora conservadora ora renovada.

O que vejo é que na realidade não há mudanças consistentes nessas práticas que são obsoletas e compactuantes com o sistema social capitalista em que vivemos. A globalização trouxe uma forma de mudança radical e irreversível causando uma grande transformação que afetou as estruturas estatais, as condições de trabalho, as relações entre os Estados, a subjetividade coletiva, a produção cultural e principalmente a vida na escola. Segundo o sociólogo Zygmunt Bauman, a globalização não é um quebra-cabeça que se possa resolver com base num modelo preestabelecido e análise- da mesma forma que a identidade que se afirma na crise do multiculturalismo ou quando a internet facilita a expressão de identidades prontas para serem usadas.

Essa é a questão: IDENTIDADE. Descobri 3 escolas que estão perseguindo essa nova identidade que está se formando e que não se auto-explica nas antigas teses educacionais.

A primeira é a Escola Caminho do Meio, localizada em Viamão (RS), dirigida pelo ex-professor de Física Quântica, Alfredo Aveline, que lecionou durante 25 anos na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, relaciona em seu programa os eixos sustentadores da educação infantil recomendados pelos Ministérios da Educação e Cultura (Movimento, Matemática, Linguagem Oral e Escrita, Artes, Música e Natureza e Sociedade) com os princípios da cultura de paz. A proposta de educação da Escola Infantil Caminho do Meio tem por base a pedagogia das 5 Sabedorias:

1-Sabedoria do Espelho: A sabedoria do espelho nos permite oferecer aquilo que faz sentido dentro do mundo do outro, aquilo que ele é capaz de entender. Esta sabedoria nos permite acolher o outro onde quer que ele esteja e a partir dela estabelecemos contato positivo, que nos permite ir adiante de forma significativa e produtiva. Esta sabedoria nos permite a compreensão de que o mundo que vemos ao nosso redor é o mundo que reflete nossa mente.

2-Sabedoria da Equanimidade: Esta compreensão faz nascer um interesse genuíno em mover-se na direção do outro, amparando, promovendo qualidades positivas como compaixão, alegria, equanimidade, generosidade, moralidade, paz, energia constante, concentração e sabedoria. No contexto da prática educativa incrementamos as qualidades positivas que permitem um crescimento dentro do contexto das aprendizagens que demandam cada etapa.

3-Sabedoria Discriminativa: Tem por base a lucidez e a serenidade. No contexto da prática educativa constitui o eixo de compreensão que nos permite diagnosticar obstáculos, orientar e prescrever métodos.

4-Sabedoria da Causalidade: Sabedoria que brota da adversidade das circunstâncias. No contexto da prática educativa permite que avancemos além das sensações de ganho ou perda, vantagem ou desvantagem, nossa e dos outros. Permite que possamos dissolver obstáculos e negatividades, ou integrá-las, para que as aprendizagens sejam significativas e positivas


5-Sabedoria de Darmata: Permite-nos não dar concretude demasiada as situações e fenômenos, ou, ao que quer que esteja nos afetando, permitindo o acesso á região de lucidez, coragem, estabilidade, criatividade e segurança, interna em cada um.
A escola opera com planejamento a ser trabalhado em um período de cinco anos. A cada ano trabalham bimestralmente uma das cinco sabedorias.
DIFERENCIAIS

A cultura de paz no currículo da educação. Considerar a todos como alunos: facilitadores, pais, comunidade e crianças. Diálogos da Educação: é aberto à comunidade, com atividades que incentivam a convivência e participação de todos no desenvolvimento comunitário. Alimentação vegetariana e disponibilização do cardápio semanalmente. O Instituto Caminho do Meio, conta com extenso bosque, horta, parquinho, centro comunitário, refeitório e marcenaria. As crianças têm a oportunidade de explorar, por meio de atividades dirigidas, a área externa à escola, tendo contato direto com a natureza e convívio.

PALAVRAS CHAVE: ACOLHIMENTO E ENTENDER O OUTRO NO MUNDO DELES.

A segunda é o Colégio Estadual Márcia Meccia, localizada no Jardim Pampulha, em Salvador-BA, que era considerada há poucos anos atrás, como a mais violenta da cidade. A UNESCO premiou a escola pelo projeto “AMATEQUEDÁ” que reduziu a violência mobilizando a sociedade local: Igrejas, Associação de Moradores, Centro Educacional, Associação Feminina, Empresários, Coordenadores do Centro de Defesa da Criança e do Adolescente (CEDECA), além de professores, estagiários e funcionários. Total de 1.385 alunos, 49 professores distribuídos em 3 turnos.

O Coordenador do projeto foi o diretor do Colégio Walfran Santos que possue formação superior em Educação Artística, mestrado em Artes Cênicas pela Universidade Católica de Salvador-BA. Pós graduação em Crítica da Arte pela UFBA, Certificado Ocupacional – Dirigente Escolar e Doutorado em Música Clássica.

O projeto AMATEQUEDÁ tem o objetivo de qualificação profissional, geração de emprego e renda, recuperação ambiental e planejamento urbano participativo do bairro Mata Escura. A meta era reduzir o nível de violência para 80% em 10 meses. A escola trabalha com ensino fundamental, médio e secundário, o qual se reproduz em diversas situações :
- Aceleração de aprendizagem
- Regularização de fluxo escolar
- Educação de Jovens e Adultos

A realidade atual do Colégio se caracteriza pelo sucesso da redução do alto índice de violência e pela consolidação de sua parceria com a comunidade.
Para atingir a meta foram definidas as seguintes ações:

1- Sensibilizar coordenadores, professores e funcionários
2- Integrar a escola à comunidade
3- Realizar encontros com professores de todos os turnos
4- Enfatizar as comemorações cívicas sociais que permitem a presença dos responsáveis a fim de resgatar a família
5- Promover atividades pedagógicas com a participação efetiva do alunado
6- Divulgar e premiar os trabalhos dos alunos
7- Obter apoio significativo dos pais e/ou responsáveis
8- Recuperar o espaço de lazer existente na escola objetivando oferecer ao alunado atividades extras de acordo com os seus interesses
9- Promover festas cívicas, apresentações teatrais, campeonatos e gincanas e outras atividades que ocupem a mente e o corpo evitando a ociosidade.

OBS: Ficou definido o dia 2 de junho como o Dia “D”Contra a Violência. Neste dia sempre se realiza a “Caminhada da Paz”. Foi implantada, também, a Agenda 21 na área.

23 trabalhos de pesquisa em andamento pelo (LTECS)- Laboratório de Desenvolvimento de Tecnologias Sociais.

Prêmios recebidos: Trabalhos dos alunos
1- X Seminários Estudantil de Produção Acad6emica-UNIFACS/2006
2- Prêmio Bahia Ambiental- Categoria Idéia Sustentável/2005
3- IX Jornada de iniciação Científica da Uneb/2005-Melhor Pesquisa em Ciências Sociais
4- IX Semnário Estudantil de Produção Acadêmico-Projeto Urbanístico- Espaços de Sociabilidade no Bairro da Mata Escura.
5- III Jornada Universitária de Iniciação Científica-UNIFACS- Projeto Urbanístico.
6- Prêmio Nacional de Iniciação Científica concedido pela FUNADESP.

A Agenda 21 foi o instrumento adequado utilizado nas discussões com a comunidade, que fez descobrir lideranças, novas realidades e um banco de dados e informações sobre a comunidade.

O Projeto foi apresentado no VI Congresso Ibero-Americano de Urbanismo, Salamanca, Espanha em outubro de 2006.

A metodologia de trabalho utilizada na implantação da Agenda 21 teve como pressupostos teóricos as idéias de Paulo Freire, Moacir Gadotti, Francisco Ferrer que propõem como princípios básicos uma educação transformadora, ecológica e libertária.

A terceira é a Escola Nacional Florestan Fernandes, que se identifica como:
“Contra a barbárie, o estudo
Contra o individualismo, a solidariedade!”

Em nome do nosso compromisso na luta contra o obscurantismo e o atraso, dois fortes instrumentos de dominação das elites brasileiras, o MST tem procurado garantir o ensino fundamental para milhares de crianças, jovens e adultos do campo, em mais de 1.200 escolas primárias, públicas, e em dezenas de escolas de segundo grau, instaladas nos assentamentos.

Além disso, em nome dessa mesma luta, o MST concluiu pela necessidade de uma Escola Nacional para os militantes dos movimentos populares e tem como principal objetivo ser um espaço de formação superior pluralista nas mais diversas áreas do conhecimento não só para os militantes do MST, como também para militantes de outros movimentos sociais rurais e urbanos, do Brasil e de outros países da América Latina.

No primeiro ano de atividades, foram realizados diversos cursos de nível superior nas áreas de Filosofia Política, Teoria do Conhecimento, Sociologia Rural, Economia Política da Agricultura, História Social do Brasil, Conjuntura Internacional, Administração e Gestão Social (em parceria com a Faculdade de Santo André), curso de especialização em Educação do Campo (em parceria com a Universidade de Brasília-UNB) e curso de Estudos Latino-americanos (em parceria com a Universidade Federal de Juiz de Fora-UFJF).


A grande maioria dos cursos conta com a docência voluntária e não-remunerada dos seus professores. Quanto aos estudantes, assumem todas as tarefas e serviços internos da escola, como limpeza, auxílio na cozinha, horta, etc. Em outros termos, a Escola é, também, uma escola de solidariedade permanente, envolvendo toda a comunidade que nela vive.


Em geral, os cursos funcionam em etapas de 3 a 4 semanas de duração cada uma. Ao término de cada etapa, os estudantes retornam aos seus locais de origem, por todo o país, em um sistema de alternância permanente entre teoria e prática.

“Quando fundamos nossa Escola, assumimos que não podíamos continuar esperando, geração após geração, que a tão necessária mudança da política de alocação das verbas públicas venha, finalmente, modificar e melhorar, objetiva e realmente, as condições de vida da grande maioria do nosso povo. Aliás, para que essa maioria assuma o controle ativo e competente da sua própria história, exigindo a realização das mudanças sociais indispensáveis, é preciso que ela possa se apropriar dos saberes que lhe são negados exatamente em nome da preservação e perpetuação dessa ordem social iníqua e excludente. Foi o que nos levou a assumir a tarefa de abrir as vias de acesso a esses saberes àqueles que deles foram excluídos. É uma tarefa tão gigantesca quanto a miséria dominante no campo brasileiro. Uma tarefa que exige de todos nós a coragem e dedicação dos nossos sonhos e ideais de uma sociedade justa e solidária”.


Jô A. Ramos

sábado, 10 de dezembro de 2011

3 MULHERES RECEBEM PELA PRIMEIRA VEZ O PRÊMIO NOBEL



O Prêmio Nobel da Paz foi entregue hoje (10) em Oslo à presidente da Libéria, Ellen Johnson Sirleaf, à também liberiana Leymah Gbowee e à iemenitaF Tawakkol Karman, distinguindo o papel das mulheres na resolução dos conflitos. É a primeira vez na história que o Prêmio Nobel da Paz é atribuído a três mulheres.



"Vocês representam uma das forças motrizes mais importantes das mudanças no mundo de hoje: a luta pelos direitos humanos em geral e a luta das mulheres pela igualdade e pela paz, em particular", disse o presidente do Comitê Nobel, Thorbjoern Jagland, antes de entregar o prêmio. "Vocês dão sentido ao provérbio chinês, que diz que as mulheres sustentam metade do céu", acrescentou.

Vestidas com trajes tradicionais - as liberianas com vestidos africanos coloridos, enquanto Tawakkol Karman usou um hijab colorido - as vencedoras receberam o Nobel sob os aplausos do presentes, que incluiu a família real da Noruega.

llen Johnson Sirleaf, de 73 anos, foi a primeira mulher eleita democraticamente chefe de Estado de um país africano, a Libéria, que sofreu 14 anos de guerras civis que fizeram 250 mil mortos. “O fato de que duas mulheres liberianas estejam aqui hoje para partilhar o pódio com uma irmã vinda do Iêmen mostra o caráter universal do nosso combate”, sublinhou Sirleaf no seu discurso.

Dirigindo-se às mulheres do mundo inteiro, Sirleaf desafiou-as a fazerem-se ouvir: “Falai! Levantai a voz! Que a vossa voz seja a da liberdade!”, exortou.

Leymah Gbowee, de 39 anos, é uma assistente social liberiana que organizou o movimento pacífico de mulheres que, com a ajuda de uma original greve de sexo, contribuiu para por fim à segunda guerra civil na Libéria, em 2003.

A jornalista iemenita Tawakkol Karman, de 32 anos, é a primeira mulher árabe a receber o Prêmio Nobel da Paz. Foi distinguida por ter sido uma das figuras de proa da Primavera Árabe no seu país, um movimento que levou ao período de transição para que o presidente Ali Abdullah Saleh abandone em fevereiro próximo o poder que ocupa há 33 anos.

Tawakkol Karman lamentou a relativa indiferença do resto do mundo em relação à revolução iemenita. "O mundo democrático, que nos falou muito dos valores da democracia e da boa governança, não deve ficar indiferente ao que está acontecendo no Iêmen e na Síria".

O Prêmio Nobel é constituído por uma medalha de ouro, um diploma e um cheque de 10 milhões de coroas suecas (cerca de 1 milhão de euros) repartido em três partes iguais pelas vencedoras.

Fonte: Jornal do Brasil

10 de Dezembro: Dia Internacional dos Direitos Humanos - A Anistia Internacional e o Brasil



O Brasil e os Direitos Humanos segundo a Anistia Internacional

Leão Serva

Hoje, 10 de dezembro, é o Dia Internacional dos Direitos Humanos.

A Anistia Internacional, ONG que goza do respeito universal por sua luta em defesa dos direitos humanos em todo o planeta, inicia um movimento para abrir os olhos dos brasileiros quanto ao atraso em questões que a entidade considera devem ser superadas caso o Brasil queira realmente exercer o papel de protagonista internacional que reivindica.

Para Atila Roque, chefe do escritório brasileiro que a Anistia Internacional abrirá em breve no Rio de Janeiro, não é possível ser um líder internacional tendo internamente problemas graves em relação aos direitos humanos, tais como:

* a quarta maior população carcerária do mundo, mantida em condições subumanas;

* comunidades indígenas em áreas de avanço econômico, como Belo Monte (onde os questionamentos internacionais geraram reação autoritária do Governo Federal contra a OEA);

* assassinatos de líderes comunitários em áreas de fronteira agrícola, como a morte recente de um índio Guarani-Kaiowá em Mato Grosso do Sul.

A Anistia é uma ONG incômoda, normalmente respeitada e elogiada em todos os países quando se trata de atacar vizinhos ou terceiros e atacada quando se trata de discutir denúncias que ela faz sobre as mazelas do país onde está.

No Brasil, durante o final do Regime Militar, suas campanhas pela soltura de presos políticos em países distantes como Malásia e Egito eram publicadas sem censura, mas suas denúncias sobre presos políticos no Brasil eram vetadas.

Hoje mesmo, o Governo Federal reage mal às críticas que a entidade faz ao país. E não são poucas as mazelas do Brasil na visão da Anistia Internacional.

Seu novo escritório, depois de dez anos ausente do Brasil, na verdade servirá como “grilo falante”, uma espécie de “chamado à consciência” dos direitos humanos em um país que quer ser parte do “primeiro mundo” sem ter feito, nessa área, toda a lição de casa para sair do quarto mundo.

Para Átila Roque, chefe do escritório da AI, historiador e cientista político, o desejo de participar como protagonista internacional é natural, “mas isso vem acompanhado de uma maior responsabilidade na defesa dos direitos humanos. Não pode haver omissão ou neutralidade que, na prática, penalizam quem está oprimido”.

Leia a entrevista com o chefe do escritório da Anistia:

1) Qual a avaliação que faz dos últimos avanços nas UPPs e a ocupação das favelas?

O modelo UPP, que consiste em trazer para as favelas a presença da segurança pública focada na reconquista do território, retirada das armas e numa perspectiva de integração com outras ações de governo (sociais, culturais e econômicas), é uma inovação que precisa ser reconhecida.

O morador da favela tem o mesmo direito à segurança que o de Ipanema, Leblon ou Jardins. Não devemos esquecer que a principal vítima do crime violento no Brasil são os moradores da periferia, especialmente jovens e negros, que tradicionalmente foram objeto de ação meramente repressiva.

Mas todas essas iniciativas serão inúteis se não vierem acompanhadas de um esforço mais amplo, tanto na esfera local quanto nacional. A segurança pública no Brasil ainda sofre distorções decorrentes de anos de autoritarismo e do baixíssimo nível de integração entre unidades da Federação e a União.

Faltam instrumentos de informação, gestão e integração, baseados na inteligência, qualificação do profissional e respeito aos direitos humanos. É preciso romper com a cultura de subsistemas isolados e controlados a partir dos Estados. Por mais virtuoso que seja algum modelo localizado, ele não pode avançar sem respaldo dentro do sistema de segurança como um todo.

2) Com o assassinato ainda a ser confirmado, qual sua avaliação sobre a morte do líder Guarani-Kaiowa e ameaças a agentes públicos e índios por fazendeiros da região? A questão agrária naquela região afeta todas as tribos (não só a Guarani) mas como os Guaranis são os índios brasileiros que primeiro estabeleceram contacto com o colonizador, eles se tornaram um símbolo. O que a Anistia pretende fazer a respeito?

Em primeiro lugar não podemos deixar de sublinhar a gravidade do que aconteceu e o quanto isso afronta a dignidade de todas as pessoas de bem no Brasil. Os relatos das testemunhas e sobreviventes falam em camionetes de luxo com cerca de quarenta homens fortemente armados e encapuzados, que cometeram agressões, executaram o cacique, levaram o corpo, assim como outros feridos que até agora não foram encontrados.

É espantoso que isso não mobilize e choque o país. A situação no Mato Grosso do Sul é crítica – a cada semana recebemos relatos de ameaças de morte contra os povos indígenas feitas por “seguranças” contratados por fazendeiros.

O caso do provável homicídio do cacique Guarani-Kaiowa e os ataques contra o resto da sua comunidade refletem uma longa tradição de discriminação, violência e impunidade que eles continuam a sofrer.

Existem milhares de Guarani-Kaiowa vivendo em situação precária, acampados à margem das rodovias próximas às suas terras ancestrais; as reservas oficiais sofrem com superpopulação, desnutrição, alcoolismo e altos índices de suicídio – um quadro triste, de colapso sócio-econômico.

Os Guarani-Kaiowa são a maior etnia na região (cerca de 50.000), com uma longa história de perseguição por causa de sua luta pelos direitos constitucionais à terra que sempre lhes pertenceu.

Há muito a Anistia vem trabalhando sobre essa questão. Visitamos a região várias vezes; conversamos com as comunidades, as ONGs locais, especialistas na área e as autoridades, inclusive a FUNAI e o Ministério Público Federal. Fizemos relatórios, pedimos ações urgentes; escrevemos cartas para o Presidente da FUNAI, Marcio Meira, em abril deste ano e entregamos uma petição com mais de 20 mil assinaturas solicitando a agilização do processo de demarcação das terras indígenas.

O problema principal é a morosidade do processo de demarcação que coloca essas comunidades numa situação de extremo perigo.

O que percebemos é que existe uma oposição total a nível estadual, seja por parte da assembléia legislativa ou por parte das organizações que representam os interesses do agronegócio, como a FARMASUL, que dificulta o processo com intervenções judiciais.

As autoridades federais têm que atuar com mais firmeza, agilizando o processo de demarcação e, ao mesmo tempo, protegendo os povos ameaçados e investigando todas as ameaças e atos de violência. É essencial, por exemplo, a punição rigorosa das chamadas “milícias rurais” que atuam com impunidade na região.

A Anistia vai continuar mobilizando seus membros para que pressionem as autoridades brasileiras com o objetivo de ver cumpridos os direitos constitucionais dos indígenas.

3) Os grupos indígenas da região de Belo Monte alegam que não foram ouvidos como determina a Constituição sobre a usina hidrelétrica. As entidades ambientalistas estão convencidas que a usina anunciada é apenas a primeira de uma série que será divulgada quando se tornar público que Belo Monte só produz energia quatro meses por ano. Qual a avaliação da Anistia sobre esse fato e suas consequências?

A associação entre o desenvolvimento econômico e os direitos humanos é tema fundamental para a Anistia Internacional – não só no Brasil, mas também em outros países que estão entrando num período de crescimento econômico rápido.

Belo Monte – por causa do tamanho e da localização – virou símbolo desse problema: como o estado pode promover desenvolvimento sem violar os direitos das comunidades na região? Claro está que o desenvolvimento é muito importante para assegurar os direitos econômicos – mas não pode ser a custa dos direitos fundamentais das comunidades, impactados direta ou indiretamente.

Em nossa opinião, os povos indígenas e os ribeirinhos não foram devidamente consultados sobre Belo Monte: foram informados, mas não houve um processo de engajamento, diálogo e consulta genuína.

Achamos também que a reação agressiva do governo brasileiro contra as medidas cautelares emitidas pela Comissão Inter-Americana de Direitos Humanos, em abril, não foi muito produtiva.

Isso não corresponde ao histórico do Brasil em relação aos organismos internacionais de Direitos Humanos, que sempre foi o de fortalecê-los. Esvaziar e tentar desqualificar organismos multilaterais que alertam sobre assuntos ligados ao Brasil demonstra que o Brasil não está preparado para ocupar um lugar de mais destaque, posto que para almejar um papel de peso na esfera global é preciso saber lidar com essas situações. Espero que esse tenha sido um desvio momentâneo.

4) As cadeias brasileiras são todas, sem exceção, medievais e condenar um criminoso à prisão numa delas é muito mais do que "privação de liberdade". A opinião pública brasileira parece alheia a essa questão, desinformada ou propositalmente vira as costas para o assunto. Ao mesmo tempo, isso gera impunidade, não raro juízes se recusam a condenar infratores por entender que a pena de prisão nessas condições é brutal demais. A Anistia tem um plano para influenciar uma melhoria da questão penitenciária no Brasil?

Bem, em primeiro lugar é importante reconhecer que embora em número reduzido, há pessoas trabalhando dentro das penitenciárias (estaduais e federais), lutando pelo melhoria dessas condições.

Seu esforço deve ser reconhecido para reforçar que, mesmo com todos os problemas advindos da corrupção e do desinteresse da população e dos políticos de um modo geral, é possível reformar o sistema.

Entretanto, não ha dúvida que o problema persiste. O uso de tortura continua generalizado e sistemático, como foi verificado pelo Relator Especial sobre Tortura, das Nações Unidas, durante uma visita ao Brasil em 2000.

As condições continuam cruéis, degradantes e desumanas: os presos continuam privados dos seus mais básicos direitos, como direito à saúde, a uma justiça eficaz e não discriminatória, e à segurança, entre muitos outros.

Em dezembro de 2010, o Brasil tinha 496.251 pessoas presas, a quarta maior população carcerária do mundo, superada apenas pelas dos Estados Unidos (mais de dois milhões), da China (1,7 milhão) e da Rússia (cerca de 800 mil). Desse total, conforme demonstrou a pesquisa da ARP (Associação Pela Reforma Prisional), coordenada por Julita Lemgruber e Marcia Fernandes, 44% eram presos provisórios, vale dizer, ainda não condenados, aguardando julgamento.

Entre 1995 e 2010 a população prisional do país mais que triplicou e a taxa de presos por cem mil habitantes aumentou 180%. E os dados mostram que estamos prendendo mal, mantendo um número excessivo de pessoas em prisão provisória e jogando nas penitenciárias jovens que não cometeram crimes violentos e que poderiam estar cumprindo penas alternativas.

Em 1999 a Anistia lançou uma campanha mundial sobre as condições no sistema carcerário. Em 2000 isso foi reforçado com uma campanha sobre as profundas e persistentes violações cometidas no sistema sócio-educativo paulista, e em 2001 um relatório da Anistia ao comitê contra a tortura das Nações Unidas foi seguido por uma campanha internacional da organização sobre o problema no país.

Hoje, mesmo que o contexto e as vítimas sejam diferentes daquele primeiro relatório sobre Tortura no Brasil, emitido em 1972, a necessidade de pressionar as autoridades para agir continua a mesma, e certamente a AI vai continuar a tratar do assunto.

5) Qual a avaliação que sua entidade faz do atual governo? Em relação ao governo Lula, mudou? Melhorou?

É cedo para fazer uma avaliação do governo da Presidente Dilma em relação aos direitos humanos ou fazer comparações com o governo anterior. Certamente a criação da Comissão da Verdade, assim como o projeto de lei para a criação de um mecanismo de prevenção da tortura (requerido pelo Protocolo Opcional da Convenção Contra a Tortura, ratificado pelo Brasil), são indicações de importantes oportunidades na defesa dos direitos humanos e no combate à tortura.

Ao mesmo tempo, a reação do governo da Presidente Dilma, em resposta às medidas cautelares da Comissão Inter-Americana de Direitos Humanos, aumentou muito as preocupações sobre as intenções deste governo.

O Brasil, com todos os problemas que tem, sempre se mostrou aberto a dialogar e participar dos processos internacionais de direitos humanos. Nas promessas feitas durante sua eleição para o Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas o Brasil citou especificamente a necessidade de participar e reforçar o sistema Inter-Americano de Direitos Humanos.

No entanto, a decisão de praticamente se retirar do sistema após as medidas cautelares citadas nesta entrevista, acabam por prejudicar seriamente a expectativa positiva criada pelo novo governo da Presidente Dilma.



Leão Serva é jornalista

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

VIVA, MULHER! DOCUMENTÁRIO SOBRE VIOLÊNCIA CONTRA MULHERES. "WOMEN,LIVE" DOCUMENTARY NEED SPONSORSHIP




PROJETO VIVA MULHER


O projeto VIVA MULHER é um documentário com mulheres de várias cidades do Brasil sobre violência, principalmente a doméstica. Quero levar informações sobre direito, cidadania e formas de defesa para as mulheres, com palestras e debates. O documentário de 60 minutos vai registrar tudo em um período de 6 meses. O filme será lançado nas casas de apoio às mulheres, nos centros, nos abrigos, e onde nos for dada a oportunidade de mostrar o trabalho.

Complementando o projeto, lançaremos um livro e disponibilizaremos cópias do documentário para cine-clubes e bibliotecas. Nossa intenção é alcançar pequenas cidades, onde o acesso à informação é precário. Estamos buscando parceria/patrocínio/apoio.

No Superior Tribunal de Justiça (STJ), a quantidade de processos sobre violência doméstica contra as mulheres é crescente – em 2006, foram 640; em 2011, já chegão a 1.600, o que representa um aumento de 150%. Isso ocorre nas grandes cidades.

Queremos falar com mulheres que não têm acesso as delegacias da mulher, aos centros de apoio, as casas abrigo. Muitas cidades não possuem nenhum órgão de ajuda às mulheres vítimas de violência.

Contato: Jô A. Ramos- ZL Comunicação
Tels: 55 21 2256-6467/9968-8114


TANSLATE FOR INGLES

"WOMEN, LIVE" - DOCUMENTARY-NEED SPONSORSHIP

Our project "WOMEN,LIVE" is a documentary about brasilian women in several cities in Brazil on violence, especially domestic. I want to take information on law, citizenship and forms of defense for women, with lectures and discussions. The 60 minute documentary will record everything in a period of 3 months.

We will launch the houses to support women in centers, shelters, and where we are given the opportunity to show work. Complementing the project will launch a book and make available copies of documentary cinema clubs and libraries. Our intention is to reach small towns, where access to information is more precarious.

We are looking sponsorship and partnership.
Information: zlcomunicacao8@gmail.com
Phone: 55 21 9968-8114- Jô Ramos

Presidenta Dilma Rousseff Encara o Inquisidor. A Dor Da Tortura