Na realidade, evoluí muito em relação à natureza. Tudo começou em 1998, quando nós (ele e sua mulher, Lelia Wanick, que dirige a agência Amazonas Imagens) compramos a fazenda que foi de meus pais, onde eu cresci, em Aimorés, em Minas Gerais. A Lelia teve a idéia de recuperar o que estava degradado. Essa tentativa de recriar a floresta virou o Instituto Terra, uma organização de educação ambiental que já atendeu mais de 5 mil pessoas e plantou 1 milhão de mudas de mata atlântica.
Eu não me transformei em um fotógrafo de paisagem ou de animais. Apenas quero começar uma série de fotografias que também incluam a biodiversidade do planeta e o meio ambiente como um todo dentro da discussão. Esses temas são tão essenciais como a distribuição de renda, a migração e os tópicos que sempre consideramos importantes para a espécie humana. Esse é o foco do projeto Gênesis. As novas fotografias são para apresentar os 46% do planeta ainda intactos e onde tudo está em formação e estado primal.
BELEZA AFRICANA- um grupo de zebras-da-montanha bebe água no Rio Hoanib, da Namíbia (abaixo). As montanhas Ágata, na costa da Namíbia (abaixo). E um gorila das montanhas de Ruanda, líder de seu bando, espreita na floresta. São espécies ameaçadas em uma região marcada pela pobreza ou pela guerra.
Projeto Gênesis – Fiz uma amostragem de 30 grandes reportagens a serem feitas até 2012. A idéia é criar uma espécie de acervo para ajudar nessa discussão sobre o planeta. No Gênesis, também existe uma proposta de educação ambiental internacional. É um projeto em parceria com a Unesco e livre de direitos autorais, tanto de fotografia quanto de texto. Professores e comunicadores usam minhas fotografias da natureza como base para a formulação de uma cartilha que será distribuída nas escolas. No material, além das fotos, existem informações sobre a teoria da evolução e conceitos sobre biodiversidade. Também vão acontecer exposições ao ar livre gratuitas para que as pessoas possam ver o planeta em que vivem. O projeto já foi testado no Espírito Santo com 92 mil crianças e está sendo levado para a Espanha, com o apoio do príncipe de Astúrias, Felipe de Bourbon. Temos de ganhar todos para essa causa.
Temos de voltar à idéia de sustentabilidade. O moderno não é você ter computador. Não é ter tecnologia. O moderno é a sustentabilidade. Essa é a preocupação real do planeta. A humanidade só vai conseguir resistir como espécie se pensarmos dessa forma. Hoje, a tônica principal é voltar a pensar no interior, nas nascentes, nas águas, no equilíbrio e na agricultura dessas regiões. Mudar a degradação atual do planeta só é possível por meio da agricultura. E não vamos conseguir isso se seguirmos essa loucura que está acontecendo no Brasil, de querer exportar a todo preço. Precisamos de uma agricultura sustentável. E o mundo urbano e rico está disposto a pagar um pouco mais caro por isso. Primeiro, para ter um produto limpo e sem agrotóxicos. Segundo, para consumir um produto que não degrade a Terra. E, terceiro, porque as pessoas querem ter interação com o planeta.
Alto Xingu, a Amazônia e o Pantanal - Projeto Gênesis são regiões onde está a parte do planeta que ainda não foi tocada pelo homem. Gostaria também de fotografar a Mata Atlântica, e estou em busca de locais possivelmente intactos no Vale do Ribeira, mas ainda é apenas uma possibilidade. Seguramente vou ao Pantanal, e vou trabalhar ainda no sistema de águas do Amazonas, nos grandes rios do norte da região. Pretendo voltar duas vezes para o Brasil para fotografar.
Os índios do Alto Xingu também são o Gênesis. A região é visitada desde a década de 50, mas os índios souberam se preservar. Eles ainda têm uma personalidade, uma característica da cultura deles que para nós seria como os heróis da Idade Média dos europeus. Espero que eles saibam manter suas tradições e lutar contra o envenenamento de seus rios. Mas nosso discurso também tem de mudar. Estamos com um discurso velho de mero produtivismo agrícola. O problema não é mais esse no mundo. Estamos ficando antigos. Hoje, o mundo quer uma agricultura limpa. O Brasil vai ser cobrado duramente por suas práticas atuais.
"Espero que a pessoa que entre nas minhas exposições não seja a mesma ao sair" diz Sebastião Salgado. E imagino que não há mesmo como isto não tornar-se uma realidade. A força de seu trabalho, de suas imagens, nos coloca frente a frente com a multidão do excluídos! E não há como ficar indiferente a isto...
ResponderExcluirÉ isso aí Eliane, vc captou Sebastião Salgado!!!maravilhoso!!!
ResponderExcluirbjs