Em uma palestra sobre o filósofo Giambattista Vico, Giuseppe Ungaretti afirmou que a verdadeira missão do homem na Terra não era a felicidade, mas sim a grandeza. Uma grandeza que seria conquistada a muito custo, sem dúvida. O próprio Ungaretti realizou esta proeza, passando por momentos verdadeiramente trágicos, sempre retrabalhados com um requinte de expressão artística em poemas que, além de comoverem pela emoção secreta que emana de cada verso, provocam no leitor a atitude de reflexão que somente a lírica do pensamento permite.
A prova desta proeza já estava em seu primeiro livro de poemas, “A Alegria”, publicado recentemente no Brasil pela Editora Record, com tradução de Geraldo Holanda Cavalcanti. Nascido em 1888 em Alexandria, Egito, cidade mítica que encantava o jovem poeta pela paradoxal paisagem que unia o mar e o deserto, Ungaretti era filho de italianos, mas o desterro sempre foi a sua verdadeira pátria.
Seja na Itália, na França (onde passou a adolescência e teve contatos com a vanguarda simbolista) ou até mesmo no Brasil (foi professor de Literatura Italiana na Universidade de São Paulo entre 1937 e 1942), seu sentimento de vazio, do tempo que desgasta as coisas deste mundo, de uma permanente inquietude pelo destino do homem, sempre foi um sentimento presente na sua obra.
ANNIENTAMENTO
Versa il 21 maggio 1916
Il cuore ha prodigato le lucciole
s'è acceso e spento
di verde in verde
ho compitato
Colle mie mani plasmo il suolo
diffuso di grilli
mi modulo
di
somesso uguale
cuore
M'ama non m'ama
mi sono smaltato
di margherite
mi sono radicato
nella terra marcita
sono cresciutto
come un crespo
sullo stelo torto
mi sono colto
nel tuffo
di spinalba
Oggi
come l'Isonzo
di asfalto azzurro
mi fisso
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